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Bolo de Fubá: Tradição e Memórias de Cora Coralina

Bolo de Fubá para Cora Coralina: Memórias e Tradição

Este texto é uma homenagem especial à poetisa e doceira Cora Coralina, celebrado através de um clássico bolo de fubá que marcou momentos de afeto e simplicidade na vida de quem apreciou sua obra e sua cozinha. Acompanhando essa história estão as memórias compartilhadas por D. Vicência Bretas Tahan, filha de Cora, que revive com carinho as tradições familiares e os sabores genuínos da culinária mineira e goiana.

Sabores que Marcam a Infância e a Vida Rural

Desde pequena, a autora se encantava com os momentos simples, regados a cafezinho coado na hora, bolos fresquinhos, pão com manteiga e doces caseiros como paçoca de amendoim e compotas artesanais. A ligação com a cozinha do interior paulista, especialmente nas regiões rurais de São Luiz do Paraitinga, trouxe a ela experiências únicas, como provar doces tradicionais — goiabada, biscoitos de polvilho, rosquinhas de sal e broas de milho — em casas amigas.

close-up de um bolo de fubá tradicional servido em um prato de cerâmica rústica, ao lado de uma xícara de café coado, com um fundo simples e acolhedor de cozinha rural brasileira

Além do café, as bebidas tradicionais — limonada de limão galego ou cravo, laranjada fresca, suco de maracujá colhido no quintal e chás de hortelã feitos na hora — complementavam esses encontros simples e acolhedores. A simplicidade e o calor humano desses momentos estão no coração das receitas que ela aprendeu com mulheres experientes na arte de cozinhar e conservar alimentos, transmitidas de geração em geração.

A convivência durante as temporadas do milho verde, por exemplo, permitiu a prática de preparar delícias como pamonha, curau e bolo de milho fresco da fazenda. Já na época da laranja-amarga, aprendia a descascar cuidadosamente as frutas e retirar o amargor para o preparo da calda de laranja da terra, ingrediente típico das sobremesas regionais.

O Evento Especial na Bienal do Livro e a Celebração do Bolo de Fubá

Em 2012, a oportunidade de participar do projeto Cozinhando com Palavras na Bienal do Livro proporcionou o encontro com D. Vicência, filha de Cora Coralina. A programação uniu poesia, histórias de vida e gastronomia familiar. Durante duas horas, falaram com o público sobre a relação profunda entre poemas e receitas, destacando o papel da culinária como sustento e expressão cultural.

Foi revelado que a poetisa adorava o empadão goiano — uma torta fina recheada com ingredientes como frango, carne de porco, linguiça, queijo, milho e guariroba — além de seus doces preferidos, como a laranja da terra em calda e a ambrosia de doce de leite. Na hora do bolo, as escolhas eram entre bolo de milho verde e o tradicional bolo de fubá, ambos da roça.

A seleçãodo poema para a celebração ficou entre “Oração ao milho” e “Antiguidades”, sendo escolhido o último, pela referência ao bolo preparado na panela, exatamente como o da casa da poetisa. Coincidentemente, o evento aconteceu no aniversário de 121 anos de Cora Coralina, marcando um momento emocionante.

A autora levou para os convidados bolo de fubá com goiabada e potes de ambrosia, enquanto D. Vicência encantava com relatos e declamações. A partilha do bolo feito na fazenda, acompanhado de café fresquinho, simbolizou o valor do simples feito com amor, criando um ambiente de aconchego e cumplicidade entre os participantes.

Memórias Poéticas e o Valor do Simples

A poesia “Antiguidades”, de Cora Coralina, retrata a infância e as tradições ligadas ao bolo de panela, ressaltando a austeridade dos tempos antigos e o respeito dedicado às visitas, em contraste com a infância rigorosa vivida. O bolo, pesado e denso, carregava um significado maior que o sabor, funcionando como símbolo das interações sociais e dos valores transmitidos pela família e pela comunidade.

O texto poético descreve a senhora D. Joaquina Amâncio, uma presença marcante nas visitas da época, e como o bolo era tratado com reverência, guardado longe do alcance das crianças, reservado para momentos importantes.

Essas lembranças evocam a riqueza cultural e histórica do ato de cozinhar e receber, onde cada receita e cada ingrediente conta uma história. O bolo de fubá, simples e tradicional, tornou-se não apenas um alimento, mas um elo entre gerações que compartilham amor, poesia e sabor.

Conclusão: A Presença Duradoura do Bolo de Fubá na Cultura Brasileira

O bolo de fubá representa muito mais que uma sobremesa típica brasileira; é uma conexão afetiva com a memória, a cultura e a poesia de Cora Coralina, que soube transformar o cotidiano em arte. A junção da gastronomia com a literatura fortalece a preservação das tradições e incentiva a valorização das receitas caseiras.

Celebrar com um bolo simples, preparado com ingredientes genuínos e recebido com carinho, é homenagear a simplicidade e a riqueza do interior do Brasil. Que as histórias de Cora Coralina inspirem cada vez mais pessoas a redescobrir o prazer das receitas regionais e a importância das experiências compartilhadas.

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